"Carlos Alberto da Costa. Um olhar de S. João da Madeira", uma obra da autoria de Daniel Neto e José Duarte da Costa, com edição do Município de S. João da Madeira, foi apresentada este sábado, 4 de maio, perante um auditório do Museu da Chapelaria completamente cheio. Familiares, amigos e amantes da fotografia e de S. João da Madeira, não quiseram deixar de marcar presença, para ficarem a conhecer um pouco mais sobre a vida e obra do grande fotógrafo sanjoanense, Carlos Alberto da Costa (1908-1999), que faria, precisamente nesta data 111 anos, se ainda fosse vivo.
O livro agora apresentado, aborda a vida e obra do fotógrafo sanjoanense, que, ao longo de décadas, captou em fotografia e vídeo imagens marcantes da sua terra natal, onde está expresso o desenvolvimento de S. João da Madeira. Este livro, torna-se também um documento que relata a história da própria cidade, como ficou claro na sessão de apresentação.
Recorde-se que este é um trabalho que tem vindo a ser preparado há bastante tempo, e que mereceu da parte da Câmara Municipal a aprovação, por unanimidade, da assinatura do protocolo de colaboração entre o Município e os autores. Nesse documento pode ler-se que Carlos Costa é um nome com "papel relevante na história de S. João da Madeira (…) a que cumpre ainda dar voz", através de um livro que perpetuará a sua vida e obra, mas que também faz "um retrato de época da sociedade sanjoanense".
Nesse sentido, Jorge Sequeira, presidente da Câmara Municipal, afirmou que o trabalho desenvolvido pelos autores, "em prol da cidade, em prol da nossa cultura, em prol da nossa memória, é um trabalho importante, e que o município reconhece". O edil sanjoanense aproveitou ainda o momento para fazer algumas referências à história da fundação do próprio concelho, com forte incidência sobre o papel desempenhado pelo Grupo Patriótico Sanjoanense, que diz ter conseguido "obter uma proeza" durante o processo de entrada do Estado Novo, ter conseguido "convencer os decisores políticos, uns meses após o golpe militar, a criar o concelho de S. João da Madeira". Relativamente a esta questão, Jorge Sequeira considera que este "é um caso que também deve ser estudado especificamente, para que se fique a saber as particulares circunstâncias que deram origem a esta decisão tão insólita, mas tão importante para a nossa comunidade", que considera estar em parte contada no livro sobre a vida de Carlos Costa. "Estamos a preservar e patrimonializar a nossa história, de modo a que as gerações futuras a olhem, a estudem, a observem, de modo a que possam aprender com os bons exemplos", e nesse sentido, considera que a nossa história "é um bom exemplo".
Para o presidente da Câmara Municipal, "este livro é fruto de uma ligação familiar e da paixão pela história da nossa terra", que fica agora ao serviço das novas gerações, através das centenas de imagens captadas ao longo de décadas, as recordações da "vila e, mais tarde, de uma cidade em permanente crescimento e ebulição".
"Em termos políticos o livro mereceu consenso alargado" - Daniel Neto
Daniel Neto, um dos coautores da obra, e um apaixonado pela história do concelho, desde há alguns anos que tinha a ideia de avançar com a pesquisa, que agora resulta na edição do livro "Carlos Alberto da Costa. Um olhar de S. João da Madeira". Este sábado, era um homem satisfeito por ver realizado esse seu desejo, não deixando de agradecer a disponibilidade da autarquia ao acolher este projeto. Dirigindo a Jorge Sequeira o agradecimento devido, fez questão de lembrar que, ainda numa fase embrionária, o livro havia sido apresentado ao executivo anterior, e "da mesma maneira que recebemos desta Câmara a disponibilidade e acolhimento, também da parte do vereador Paulo Cavaleiro verificou-se o mesmo", o que, segundo as suas palavras, "em termos políticos, o livro mereceu o consenso alargado", espelhado na votação em reunião da Câmara Municipal. "Para nós é um motivo de muita satisfação e ao mesmo tempo é uma homenagem justa a uma pessoa que pautou toda a sua vida por um distanciamento e uma atitude de tolerância em relação a créditos políticos, religiosos e até clubísticos", considerando tratar-se de uma medida mais do que justa.
Daniel Neto lembrou que o livro é o resultado "de um trabalho feito a dois, em partes iguais, que nos deu muito prazer", lembrando que sem José Duarte da Costa não teria sido possível avançar com o livro.
"As coisas não acontecem por acaso. Acontecem porque há encontros" - José Duarte da Costa
A paixão e as questões técnicos do livro, foram amplamente valorizadas por José Duarte da Costa, que retribuiu os méritos da obra a Daniel Neto. "Sem os teus conhecimentos técnicos, sem a paixão que colocaste nisto e sem o teu empenho, evidentemente que não sairia nada deste género", agradecendo publicamente o facto de "ter trabalhado contigo".
O filho de Carlos Alberto da Costa acredita que "as coisas não acontecem por acaso. Acontecem porque há encontros", lembrando que a ideia da realização da obra "nasceu num encontro que aconteceu em meados de 2015, na Praça, antigamente designada por Lugar das Vendas, onde o meu pai nasceu e viveu, bem como o meu avô, Francisco Luís da Costa, carinhosamente conhecido por «Ti Chico Folheteiro», desenvolveu grande parte da sua atividade empresarial", referiu. Sobre a alcunha de «Folheteiro», lembrou tratar-se pelo facto de estar relacionado com a sua primeira atividade, de fabrico e venda de produtos e matéria-prima a folha ou folheto.
Mas, voltando ao encontro de 2015, José Duarte da Costa, lembra que houve "uma conjugação de duas vontades", na qual, e como filho, "queria deixar expressa uma memória descrita, tão completa quanto possível, sobre o meu pai". Já sobre Daniel Neto, "sendo um apaixonado da fotografia, e que sempre teve Carlos Alberto da Costa como sua referência, queria homenageá-lo". Nesse sentido, lembrou que em 1975, quando Daniel Neto fez uma visita a casa do seu pai, e que descobriu o acervo fotográfico de Carlos Costa, "tornou-se um dos seus mais fiéis admiradores", afirmou.E perante estas vontades, passaram então, numa primeira fase, "a reunir semanalmente", altura que começaram por apreciar e selecionar documentos, recortes de imprensa, fotografias, entre outras motivos de interesse. Em torno de toda esta pesquisa, estão também os textos sobre o homenageado, que José Duarte da Costa fez questão de mencionar, como os casos de João da Silva Correia, Belmiro António da Silva, José Duarte Gonçalves, Josías Gil, Viale Moutinho, Manuel Tavares, José Manuel Bastos, Eurico Alves.
Mas, no meio de toda esta pesquisa, diz terem chegado à conclusão de que "não era possível fazer a biografia do meu pai, sem contar a vida do meu avô, sendo que, também, não era possível falar da história dos dois, sem falar da história de S. João da Madeira, porque elas são indissociáveis". Assim sendo, admite que o tempo da pesquisa foi muito além do que estava previsto, e por consequência "o tempo de execução teve de ser alargado".
Sobre o seu pai, lembrou que sendo ele o filho mais velho, começou por ajudar na serralharia, posteriormente no serviço de carros de aluguer, no posto de combustíveis, na fábrica de cartão e no cinema. E na sequência desta experiência laboral, o gosto pela fotografia e cinema surgiu, algo que o livro retrata.
Mas, esta vertente artística, permitiu que as atuais gerações possam usufruir de um pouco da história do concelho, em imagens. "S. João da Madeira teve a sorte de ter um Carlos Costa que faz a sua história em imagens", referiu José Duarte da Costa, que lembrou ainda, que já numa fase mais avançada da sua vida, descobriu uma outra faceta, trabalhando raízes, recriando formas humanas, a indústria local e processos de fabrico "que se iam apagando da memória dos contemporâneos".
"Esperamos que este livro seja um contributo para uma história de S. João da Madeira mais humanizada"
Ao longo dos últimos anos vários foram os contributos para a história de S. João da Madeira, através de livros publicados sobre grandes instituições, empresas e empresários sanjoanenses, e no qual se incluiu "Carlos Alberto da Costa. Um olhar de S. João da Madeira", que José Duarte da Costa considera serem contributos para uma "história mais humanizada", esperando que o livro agora apresentado "cumpra esse desiderato", concluiu.
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