Os valores de Abril foram lembrados e evocados nas cerimónias dos 45 anos do 25 de Abril, em S. João da Madeira, valorizando a importância que continuam a ter na vida dos jovens.
As cerimónias oficiais arrancaram com o hastear das bandeiras, que antecederam a sessão da Assembleia Municipal, onde as vozes dos políticos, e de quem gere os destinos da cidade, foram unânimes na necessidade do reforço da Democracia.
Mas, foi da boca de Mariana Coelho, a representante da Assembleia Municipal Jovem, que não viveu o período que antecedeu o 25 de Abril, que se ouviu uma forte referência a um país “da ditadura, da censura, da repressão e das prisões políticas, cujas taxas de analfabetismo eram das mais altas da Europa”, mas do qual não se revê, olhando para o futuro e para as conquistas de Abril como vitórias da liberdade e da democracia.
E nesse lote de conquistas, também enquadra o projeto da Assembleia Municipal Jovem, onde os jovens têm direito à opinião, e as suas aspirações são "tomadas em conta", referiu a jovem.
Nesse sentido, escutaram-se palavras de que é preciso fazer um esforço acrescido para manter vivos os ideais de Abril, acrescido de diversas referências às políticas locais, com os grupos municipais a aproveitarem o momento para lançar críticas e deixar alguns recados ao executivo camarário.
"A visão de futuro anunciada há 2 anos está-se a tornar numa prática que compromete seriamente a ambição dos sanjoanenses" - Pedro Gual (PSD)
Pedro Gual, da bancada do PSD, lembrou a vitória do Partido Socialista nas últimas autárquicas, através do "direito ao voto livre que abril de 74 permitiu", dando uma maioria ao Partido Socialista para governar os destinos da cidade. No entanto, não deixou de criticar o facto de que se "a revolução deveria significar evolução, não é a isso que assistimos no presente". Para o deputado social democrata, "a visão de futuro anunciada há 2 anos está-se a tornar numa prática que compromete seriamente a ambição dos sanjoanenses", apontou. E foi mais longe, referindo as obras estruturais para a cidade, dando como exemplo, "a reabilitação da habitação social, a Sanjotec, a Oliva Creative Factory, o Núcleo de Arte da Oliva, a Casa da Criatividade ou a Academia dos Campeões, entre muitas outras, legado dos executivos PSD para os sanjoanenses, estão a dar lugar a pequenas obras de circunstância e de cosmética, reveladoras do desinvestimento na cidade e da incapacidade em gerir os seus destinos", frisou na sua intervenção. As contas do município referentes ao ano de 2018, apresentadas recentemente, foram também merecedoras de uma nota crítica. "As contas demonstram isto mesmo: uma quebra significativa no investimento na cidade, apesar da maior disponibilidade financeira a que o executivo teve acesso", afirmou. E no ponto de vista do seu partido "a não execução de obra que estava prevista e orçamentada lança uma hipoteca sobre o futuro do município, exigindo que todos nós sejamos capazes de encontrar respostas para as questões atuais da nossa cidade". Em jeito de conclusão, o deputado social democrata dirigindo-se aos jovens, essencialmente aqueles que apenas conheceram a realidade da vida em liberdade e em democracia, para lhes deixar um apelo, "para que se empenhem na perpetuação dos ideais de Abril ao longo dos tempos e na construção de uma sociedade justa, coesa e plural".
"O atual sistema político não satisfaz as necessidades e aceitação política dos jovens" - Manuel Luís Almeida (CDS-PP)
Manuel Luís Almeida, deputado municipal do CDS-PP, salientou a importância do poder local, "uma das conquistas permitidas e conseguidas pela Revolução dos Cravos", bem como os direitos adquiridos pelos jovens, permitindo-lhes um melhor futuro profissional.
No entanto, o deputado do CDS-PP considera que "nem todo são rosas ou cravos", aludindo ao facto de que se tem seguido políticas menos indicadas para o país. "Os jovens, na sua larga maioria não se identificam com o atual regime", referiu. E nesse sentido afirmou que "o atual sistema político não satisfaz as suas necessidades e aceitação política", afirmando que é necessária "a modernização da máquina administrativa, eliminando a burocracia, criar justiça social fiscal", e demonstrando uma forte preocupação com a necessidade do abandono do país, por parte dos jovens licenciados, em busca de melhores condições no estrangeiro. "Falta cumprir Abril. Falta cumprir um país justo, fraterno e desenvolvido", alertando para a necessidade do combate "à fraude e corrupção, que existe nos diversos patamares do poder".
"O 25 de Abril foi um dos momentos mais altos da história de Portugal, e sem dúvida o mais importante do século XX" - Jorge Cortez (CDU)
Para Jorge Cortez, da CDU, o 25 de Abril foi "um dos momentos mais altos da história de Portugal, e sem dúvida o mais importante do século XX". Para o deputado comunista, que na sua intervenção acabou por fazer uma resenha desse momento, há uma preocupação atual que tem vindo a ganhar força na Europa, com o crescimento "dos grupos neo-fascistas", que diz estarem a ganhar algum peso nos aparelhos de Estado, sendo que "alguns participam nos governos". Em Portugal, considera que "são imensas as iniciativas que tentam impor, muitas das vezes com a cobertura dos grandes meios de comunicação social o seu reforço político". Nesse sentido, considera que "é importante transmitir às gerações mais novas que em Portugal ouve uma ditadura fascista, que perseguiu, torturou e assassinou, quem lutou pela liberdade, pela paz, pelo pão, pelos seus direitos, bem como os obrigou a participar numa guerra que provocou milhares de mortes", afirmou.
"O caminho está livre e a confiança depositada em nós, autarcas, é elevada. Nós temos a obrigação de proporcionar uma vida digna e justa aos cidadãos. É só para isso que aqui estamos" - Rodolfo Andrade (PS)
Rodolfo Andrade, representante do Partido Socialista, referiu na sua intervenção que "a democracia e a liberdade são, felizmente, uma realidade na nossa cidade. No entanto, isso não nos deve dar por satisfeitos", afirmou. Para o deputado socialista, as responsabilidades do seu partido "são maiores e os compromissos são exigentes", considerando que "o caminho está livre mas devemos manter o foco". No entanto, a confiança que diz ter sido depositada no Partido socialista "por uma expressiva maioria dos sanjoanenses é elevada e é obrigação dos autarcas darem o retorno aos cidadãos", lembrou o líder de bancada, reforçando as suas ideias com a certeza de que "a política autárquica deve ser feita com responsabilidade, diálogo e cooperação. Ganha a cidade e ganham os sanjoanenses".
Como que quase em jeito de lembrete ou aviso ao executivo, as suas palavras foram de alertar para o facto da responsabilidade ser muito grande e os compromissos estarem lançados. "O caminho está livre e a confiança depositada em nós, autarcas, é elevada. Nós temos a obrigação de proporcionar uma vida digna e justa aos cidadãos. É só para isso que aqui estamos" afirmou.
E foi ainda mais longe, ao garantir que "cabe aos autarcas apontar alternativas, não desiludir, não ignorar expetativas e apontar um caminho credível, um caminho que passe pelo desenvolvimento, pelo crescimento e pela alternativa". Para Rodolfo Andrade, "olhando para o futuro, não há dúvidas que a nossa cidade precisa de mais. O futuro é desafiante e o papel dos municípios deve ser mais alicerçado e conjugado", reforçou.
E concluiu a sua intervenção, considerando que S. João da Madeira precisa de pensar o futuro e "continuar a fazer o que tem feito: reposicionar-se estrategicamente", afirmando que o partido está consciente de que se deve seguir "o caminho de uma cidade livre que possa honrar os lemas de Abril".
"Celebramos o 25 de Abril em S. João da Madeira com um particular entusiasmo e emoção" - Jorge Sequeira (Presidente da Câmara Municipal)
Para Jorge Sequeira, presidente da Câmara Municipal, esta é "a data mais marcante do século XX português". Segundo o edil sanjoanense "celebramos o 25 de Abril em S. João da Madeira com um particular entusiasmo e emoção", numa referência à intervenção inaugurada este domingo, 28 de abril, na Rua do Poder Local. Nessa intervenção, há uma homenagem às Forças Armadas, com a instalação de uma viatura Chaimite, "que desempenhou um papel importante no golpe de Estado e do momento da rendição do Antigo Regime", e de um mural de com Salgueiro Maia, um dos grandes capitães de Abril. Para Jorge Sequeira, esta intervenção "visa deixar, para as gerações futuras, um testemunho simbólico daquilo que representou o 25 de Abril", referiu.
Numa alusão ao trabalho que a cidade tem vindo a contribuir para "uma vida democrática e de participação cívica", referiu-se ao Orçamento Participativo, à Assembleia Municipal Jovem e ao Portal da Transparência como exemplos que S. João da Madeira soube desenvolver, indo ao encontro do legado do 25 de Abril e das “fortes tradições democráticas da cidade”, frisou.
Numa sessão que abriu com o Coro de Câmara de S. João da Madeira, a entoar o poema “Acordai”, de José Gomes Ferreira e encerrou com as mesmas vozes a interpretarem o Hino de Portugal, a presidente da Assembleia Municipal, Clara Reis começou por dizer que "continuamos a dar prioridade a ensinar Abril", considerando que "compete a nós
construir essas memórias, que simbolizam o esforço de tantos que lutaram, e morreram por esta conquista".
Para a presidente da Assembleia Municipal, "mesmo se sentirmos alguma desilusão ou frustração em relação aos nossos sonhos, devemos continuar a sonhar e a lutar por eles", considerando que existe liberdade para o fazer.
“Ensinar Abril significa transmitir confiança na capacidade que cada um tem de promover essa mudança, não remetendo para os outros as opções que a nós dizem respeito”.
Comemorações prolongaram-se pelo fim-de-semana
As comemorações prosseguiram no sábado, 27 de Abril, no Museu da Chapelaria, onde se realizou uma sessão sobre o papel do exército na conquista da Liberdade e o fim da guerra colonial, com a participação do médico Adão Cruz e o jornalista Joaquim Furtado, autor da premiada série televisiva documental “A Guerra”.
No domingo, após ter sido adiada devido às más condições atmosféricas, realizou-se, na Rua do Poder Local, uma sessão evocativa da Revolução de Abril, com música, teatro de rua e declamação, durante a qual foram também inaugurados um mural do artista urbano Frederico Draw e um veículo blindado chaimite que ficará instalado nesse espaço público da cidade.
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