No âmbito do Torneio de Interassociações de Futsal Sub-15, que se realizou em S. João da Madeira, decorreu esta quarta-feira, 10 de abril, no auditório dos Paços da Cultura uma ação de formação, com dupla certificação para os treinadores do IPDJ e da UEFA, centrada na temática da formação, "Formar Atletas: Como e Para Quê? O Desenvolvimento Físico do Atleta. Sala cheia para ouvir o treinador da equipa sénior de basquetebol da Oliveirense, Norberto Alves, o treinador de ténis grau III, especialista em alto rendimento, João Peralta, o treinador da equipa sénior de futebol do Sporting de Espinho, Rui Quinta e o fisioterapeuta da Federação Portuguesa de Futebol, Marco Fonseca e o selecionador nacional de Futsal, Jorge Brás. A organização esteve a cargo da Associação de Futebol de Aveiro (AFA), Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a parceira da Câmara Municipal.
Numa sessão que se prolongou ao longo de mais de três horas, falou-se, por vezes, na primeira pessoa e das experiências e dos contributos para uma melhor formação, transversal a todas as modalidades desportivas. Essencialmente mais focada para o futsal, a presença de treinadores de diversas modalidades foi uma evidência na plateia, que se mostrou interessada e bastante participativa, questionando, por vezes, os interlocutores.
Rosário Gestosa, vereadora do Desporto da Câmara Municipal de S. João da Madeira, na sua intervenção começou por enaltecer o trabalho desenvolvido pela Associação de Futebol de Aveiro, adjetivando-a de "um parceiro de excelência, que fazem com que o desenvolvimento desportivo da cidade acabe, também, por acontecer de forma sustentável".
A vereadora aproveitou ainda a sua intervenção para reforçar a ideia da campanha "Respeite o Seu Filho", um projeto local de ética para o desporto, "como forma de sensibilizar os pais", lembrou.
Na primeira parte da formação, as questões do trabalho físico e das lesões foram o foco da intervenção de João Peralta e Marco Fonseca. O trabalho físico foi amplamente discutido e explanado, por alguém especializado em alto rendimento, que descreveu diversas situações e questões bastante técnicas, apresentando situações concretas e práticas, num contributo para o desenvolvimento físico do atleta.
Já a abordagem que se deve ter perante uma lesão, transversal a todas as modalidades desportivas, foi um dos focos do fisioterapeuta da FPF. Saber transmitir a gravidade de uma lesão ao jovem atleta, bem como os meios para ajudar a debelá-la foram aspetos que, quis deixar bem vincado, recorrendo sempre a exemplos do seu dia a dia.
"Treinar é para mim um processo consciente" - Norberto Alves, Treinador da equipa sénior de basquetebol da Oliveirense
A segunda parte desta formação arrancou com o testemunho de três treinadores, que apesar de nesta fase das suas carreiras não estarem a trabalhar com a formação, não deixaram de recordar os tempos em que por lá andaram, bem como o papel fundamental do treinador na formação do jovem atleta.
Norberto Alves, atual treinador da equipa sénior de basquetebol da Oliveirense, começou por considerar que "treinar é para mim um processo consciente", passando a mensagem aos atletas "do que é que estamos a fazer e para que serve aquele exercício". Outro das ideias fortes da sua intervenção é a leitura que faz sobre ser treinador, considerando que a resiliência é um capacidade primordial para identificar um bom treinador, a que se deve associar "conhecimentos profundos daquilo que ensinam", considerando que esta tarefa "não é para curiosos, mas sim para quem se dedica a saber o que está a ensinar aos outros", Nesta análise que fez aos aspetos primordiais para se ser treinador, não esqueceu a comunicação, valorizando a forma como se transmite esse conhecimento. Norberto Alves frisou ainda a forma "como lidamos com as emoções, especialmente quando se trata de jovens", relevando a capacidade que o treinador deve ter a lidar com essa emoções, para que esse exemplo surja como "a melhor ferramenta pedagógica".
Para o treinador de basquetebol da Oliveirense, "primeiro temos de ensinar os jovens a gostar da modalidade, posteriormente a treinar, algo que implica esforço e sacrifício, e depois a competir, e finalmente a ganhar, num trajeto de aprendizagem como jogadores", vincou.
Numa clara visão em que se separa o desporto de competição do de formação, as ideias dos interlocutores desta ação de formação foram transversais a todos, que comungam de uma visão em que a competitividade deve estar sempre em segundo plano, quando se está a formar jovens atletas. E nesse sentido, Norberto Alves terminou a sua intervenção, recordando aquilo que fez para transmitir o sentido da palavra formar, que na sua maneira de ver podia ter sido considerado "um ato estúpido". Recorrendo ao dicionário, fez a leitura da definição da palavra formar, e lá garante ter encontrado todos os fundamentas essenciais para a formação de um jovem atleta.
O selecionador nacional de Futsal, Jorge Brás, corroborando das palavras do treinador da Oliveirense, questionou a plateia sobre a capacidade que cada um dos treinadores tem para alterar comportamentos, perante os muitos chavões que se ouvem sobre a forma correta de formar. Que responsabilidades temos nós na formação e que decisões tomá-mos", deixou no ar a questão.
"A vida ensinou-nos que pessoas felizes têm desempenhos extraordinários" - Rui Quinta
Outra das vozes que partilhou as suas ideias e experiências foi Rui Quinta, treinador da equipa sénior de futebol do Sporting de Espinho. O técnico de futebol recuou a 1991, para
lembrar o início da sua carreira como treinador na área da formação, e deixou exemplos do seu trabalho, que nas suas palavras foram sempre na tentativa "marcar gerações de jovens e de pessoas", pois nas suas palavras essa sempre foi a sua prioridade. " A nossa primeira preocupação foi virada para um conjunto de ambições de índole pessoal, estipulando um número de regras, sendo muito rigorosos com os nossos jovens".
A ideia de Rui Quinta passava por ajudar os jovens a construir a sua autonomia, numa aprendizagem mútua. "Os jovens ajudaram-nos a perceber muita coisa", pois para o técnico de futebol não basta ter apenas o conhecimento.
"A vida ensinou-nos que pessoas felizes têm desempenhos extraordinários", afirmou Rui Quinta, que com base nesta premissa acredita que tudo passa pela forma "como criamos as condições para que isso seja possível". E nesse sentido sempre seguiu uma filosofia ganhadora, que nas suas palavras não é o mesmo do que ter a obrigação de ganhar. E como imposição sempre transmitiu aos seus jovens atletas de que "temos de ser capazes de entregar em cada momento o nosso melhor", preferencialmente que o fizessem de uma forma em que se sentissem "satisfeitos e felizes", salientou.
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