Integrada no programa da Campanha Poesia à Mesa 2019, que está a decorrer em S. João da Madeira desde o passado dia 1 de março, inaugurou na passada sexta-feira, 8 de março, na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira, a exposição de pintura e poesia “…como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro”, da autoria der Adão Cruz. Esta exposição pode ser apreciada até 20 de abril e tem entrada gratuita. Numa inauguração marcada pela emoção do autor, o cardiologista de profissão, que conta já com 81 anos de idade, e que tem como passatempo a pintura e a escrita de poesia, deixou bem vincado nas suas palavras, não saber se esta mostra, "ainda é algum ato de resistência ou se é mais uma máscara”.
Nas palavras de Adão Cruz, “vivemos hoje quase exclusivamente com máscaras para esconder a realidade e mascaramo-nos para ver a realidade”. Considerando que olha para tudo isto que o rodeia com alguma desilusão, e verificando que "as sombras estão no lugar onde deveria estar o sol", considera que "as nossas máscaras escondem as grandes máscaras dramáticas dos dias de hoje". Desconstruindo a sua mensagem, Adão Cruz deu como exemplo "as máscaras da Palestina", ou ainda o caso dos refugiados que morreram afogados no mediterrâneo, "tudo isto produzido pelas mãos criminosas e assassinas dos poderes ditos civilizados", afirmou.
Na analogia que fez na sua alocução, não fugiu à comparação com a realidade nacional, questionando-se "como é que uma elite política-económico-financeira consegue roubar e saquear uma população inteira, não tendo o mais pequeno escrúpulo, a mais pequena ponta de ética, de dignidade, de honra, moral individual e social". E foi mais longe ao considerar que os paradigmas criados pela sociedade, dando como exemplo o Dia Internacional da Mulher ou o Dia Mundial da Criança, entre outros, se não são mais do que "atos de resistência ou se são marcas", que o leva a afirmar que com o passar dos anos comece a acreditar em muito poucas coisas. E com isto, deixou no ar a questão de se "não haverá necessidade de pararmos um pouco para pensar" pois na sua visão a sociedade atual está "descabelada, descontrolada e mesmo podre, mas a proliferar no mundo inteiro".
O cardiologista acredita que o sentimento artístico e poético "são catalisadores fantásticos e insubstituíveis do progresso de uma sociedade justa", e que "deveríamos parar um pouco mais para pensar", em jeito de reflexão e conclusão.
"Não sou mensageiro de nada. Escrevo e pinto para mim"
Sempre escreveu e pintou para si, como uma forma de poder expressar o seu mundo, nunca sentindo a necessidade de expor. "Não sou mensageiro de nada. Escrevo e pinto para mim", afirmou Adão Cruz. Mas a convite da Biblioteca Municipal aceitou o repto, acima de tudo "pela honra e as relações de amizade que eu e a minha irmã temos com a biblioteca, no entanto, se não fosse esta relação eu diria que não", lembrando o facto que a sua idade já não permite andar envolvido em "muito trabalho".
O presidente da Câmara Municipal, Jorge Sequeira, que marcou presença na inauguração desta exposição, não poupou elogios ao trabalho artístico do cardiologista, considerando que a sua obra "é já imortal e vai ficar como património do nosso país".
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