No âmbito da Memória ao Massacre de Arrifana, ocorrido a 17 de abril de 1809, durante a 2ª Invasão Francesa, esta freguesia, do concelho de Santa Maria da Feira, recriou esse massacre que marcou as gentes arrifanenses. Desde 2009, data do bicentenário, do massacre, "que temos vindo a assinalar de uma forma bastante incisiva", referiu Roberto Carlos Reis, professor universitário, que acumula a função de diretor executivo do evento, com a de narrador da história.
"Este foi um momento único na Guerra Peninsular e nas invasões napoliónicas. Não há nenhum registo similar ao que aconteceu aqui em Arrifana", referiu o homem que coordena todo o evento.
Segundo reza a história, após a morte de um oficial francês, por sinal sobrinho do Marechal Soult, então Comandante da Invasão Francesa a Portugal, na sequência de uma emboscada, levou a que o exército francês retaliasse, com o Marechal Junot a ordenar, em edital, que Arrifana fosse entregue à custódia do fogo, levando a que a população alarmada se refugiasse na Igreja, onde se julgava a salvo. "De uma forma afincada mandou os seus melhores homens para perseguirem todos aqueles que estiveram envolvidos no assassinato do seu homem de confiança", referiu Roberto Carlos, que assegura que ele não descansou, enquanto não vingou essa morte, "causando este morticínio, usando uma estratégia pouco comum". Os soldados franceses invadiram o templo, selecionando todos os homens e rapazes válidos, “quintados” (contavam cinco a cinco e o último era escolhido) que seriam de seguida arcabuzados num lugar da freguesia de seu nome Buciqueira.
Tal tragédia marcou para sempre Arrifana e as suas gentes. "Foram fuzilados 67 arrifanenses, e não só, pois também havia gente de S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Mosteirô, de Fornos e Escapães", lembrou o diretor do evento. O sofrimento provocado por tal atrocidade provocou neste povo um sentimento de pertença e bairrismo invulgar, que ainda hoje perdura na população nativa de Arrifana.
Nesse sentido estas memórias continuam a ser recriadas e revividas pelos arrifanenses.
A recriação é uma organização da Junta de Freguesia de Arrifana, Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, com o apoio das associações e do Exército. "Com este evento, que vai crescendo paulatinamente, procuramos constituir aquilo a que chamámos uma nova forma de turismo", afirma o diretor executivo do evento, lembrando o facto deste projeto ter estado, em 2018, integrado na 5ª Capital do Eixo Atlântico, liderada por Santa Maria da Feira, e consequentemente, "Santa Maria da Feira recebeu um prémio no âmbito do turismo militar, usando quer este projeto, quer também, a utilização do Castelo".
A importância das associações na realização do evento, é também referida por Roberto Carlos, que considera que "a grande riqueza que surge nas Invasões Francesas, Festa das Fogaceiras, da Semana Santa e da Viagem Medieval, deve-se muito ao rico associativismo que temos, e que permite, de certa forma, colocar de pé pequenos, médios e grandes projetos". Este dinamismo permite que algumas entidades "já comecem a ser recrutadas para participarem em eventos em outros pontos do país", onde o amadorismo dos intervenientes, através do voluntariado, de alguma forma, "enaltece ainda mais os eventos".
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