Fazer uma visita ao Património Religioso de Santa Maria da Feira é uma das experiências que os visitantes da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria podem usufruir gratuitamente. Até amanhã, 11 de agosto, a Igreja Matriz de S. Nicolau da Feira, no centro histórico da cidade, abre portas para uma visita guiada, inclusivamente a espaços que habitualmente encontram-se encerrados ao público, como o coro-alto com um órgão de tubos de 1896, ou a uma das celas dos frades Lóios ou Azuis, como também eram conhecidos.
O Terras Santa Maria Informação fez uma dessas visitas, e ficou a conhecer muito da história e estórias de um espaço emblemático e com tanto para mostrar, que é possível descobrir ao longo dos 45 minutos que a visita demora, conduzida por dois guias que esclarecem todas as dúvidas colocadas pelos visitantes. Aqui o tempo nem se vê passar, até porque a envolvência por espaços seculares que pertenceram à Congregação de S. João Evangelista, vulgarmente conhecida por Lóios, nos conduzem para tempos idos.
Um monumento que não é medieval mas tem traços de "medievalidade"
A edificação deste monumento deve-se à iniciativa do terceiro Conde da Feira, D. Manuel Pereira, sendo o seu filho Diogo Pereira o quarto Conde da Feira e a sua mulher Ana de Menezes que basicamente deram o seguimento ao projeto de devoção a São João Evangelista.
Mas, é bom que os visitantes percebam que este monumento não é propriamente medieval, até porque a sua construção iniciou-se em 1547, já muito longe da época medieval portuguesa. No entanto, os traços de "medievalidade" estão bem explícitos em alguns elementos ali existentes, como "alguns traços etnográficos", não só portugueses, mas também que a Igreja Católica foi adquirindo ao longo dois milénios.
Mas, a construção da igreja sofreu algumas interrupções com a crise a atingir a Igreja Católica. No entanto, isso não foi impeditivo que a sua construção fosse finalizada. Sendo os portugueses mestres na arte de "desenrascar", foram encontradas soluções alternativas, com o objetivo de finalizar a obra mas, de forma bem mais económica. Recorde-se que a igreja está decorada, na sua grande maioria por talha dourada, no entanto, existem dois altares decorados a talha prateada, resultantes dessas dificuldades dos tempos.
A juntar à explicação de todos os pormenores e à beleza que o monumento apresenta os visitantes são convidados a escutar momentos de declamação e de música medieval, inclusivamente com um instrumento que é seguramente uma surpresa para quem o vê e ouve.
A diversidade de sonoridades que o Dulcimer oferece encantou os visitantes
No coro-alto, os visitantes são recebidos por Nuno Silva, músico profissional há quatro anos, mas desde os 14 anos de idade que está ligado à música, que apresentou o Dulcimer. Mas, afinal o que é o Dulcimer? É nada mais do que um instrumento de cordas percutidas, de origem medieval. Consiste em uma caixa acústica de madeira com cordas metálicas de aço, dispostas em grupos de duas a cinco por nota e distribuídas ao longo de uma caixa de ressonância plana, de forma trapezoidal.
Para os mais entendidos, este instrumento pertence à família do saltério, mas é, também, considerado como o antecessor do piano, embora não tenha teclas, e é originário do médio oriente, provavelmente do santur persa. Nuno Silva, começou a mostrar interesse por este instrumento, na busca de timbres diferentes, fazendo uma viagem por diversos tipos de instrumentos. "Mas como a curiosidade nunca ficou completamente saciada, continuei a procurar instrumentos diferentes, onde descobri este da família dos saltérios", sendo que foi o caminho para começar a explorar mais e a estudar.
Nesse contexto, o músico aceitou o convite da organização da Viagem Medieval porque, "é muito interessante poder explorar o instrumento neste contexto medieval e fazer algumas incursões por outras culturas", referiu. Maria Santos, uma das visitantes que ouviu atentamente a pequena demonstração do músico, adorou a sonoridade do instrumento, essencialmente pela sua polivalência, que "nos transporta para sons do nosso imaginário".
Apesar de não ser um instrumento do conhecimento geral das pessoas, é já bastante utilizado na música folclórica na Europa, muito se devendo à oferta diversificada de sonoridades.
Após a visita aos Claustros, os visitantes são convidados a degustar alguns produtos locais e regionais, como a regueifa doce da Feira e vinho.
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